O quanto o nível dos oceanos está aumentando?
O que a ciência diz...
O nível dos oceanos é medido por uma variedade de métodos que apresentam ótima concordância - testemunhos de sedimentos, medidores de maré, medições de satélite. O que eles mostram é que o aumento do nível do mar tem se acelerado ao longo do último século.
O aumento do nível do mar é exagerado
"Nos é dito que o aumento do nível do mar irá logo inundar nossas cidades. Todo mundo sabe que a ilha Tuvalu, no Pacífico, está afundando...
Nos anos 1990 se tornou claro que os marégrafos locais não coincidiam - não havia evidência de subsidência. Cientistas da Universidade de Flinders, Adelaide, colocaram marégrafos novos e modernos em 12 ilhas do Pacífico.
Recentemente o projeto todo foi abandonado, pois não havia sinais de mudanças no nível do mar em nenhuma das 12 ilhas nos últimos 16 anos." (Vincent Gray).
Gavin Schmidt investigou a fonte dessa afirmação de que os marégrafos em ilhas do oceano Pacífico não têm demonstrado variação no nível do mar, e percebeu que os dados de todas as estações mostram uma tendência de aumento. Mas e quanto ao aumento do nível global dos oceanos?
Um erro comum no debate climático é tirar conclusões a partir de uma pequena parte dos dados enquanto negligencia o contexto geral. Um bom exemplo disso é a afirmação recente de que o aumento do nível dos mares está desacelerando. Os dados citados são medições altimétricas de satélite da média global do nível dos oceanos nos últimos 16 anos (Figura 1). A média suavizada (60 dias - linha azul) parece indicar que o aumento do nível do mar teve um pico no início de 2006. Assim, alguém pode argumentar que o nível dos mares não subiu por 3 anos. Pode-se dizer que a tendência de subida do nível do mar a longo prazo encerrou?
Figura 1: Medições altimétricas de satélite da mudança da média global do nível dos oceanos, com efeito do barômetro invertido (University of Colorado).
Para responder a esta questão, tudo o que se tem que fazer é observar o conjunto de dados completo, dos 16 anos. Um sinal com ruído é aplicado sobre a linha de tendência de longo prazo do aumento do nível do mar. Essas flutuações significam que haverá curtos períodos nos quais o nível do mar não apresentará nenhuma tendência. Por exemplo, 1993 a 1996 ou 1998 a 2000. Em outras palavras, houve ao longo do tempo, vários períodos curtos, de alguns anos nos últimos 16 anos, nos quais o nível do mar se mostrou constante, aparentando não subir.
Isso é inevitável quando se tem um sinal com ruído sobreposto a uma linha de tendência de longo prazo. Se observa que ocorre exatamente o mesmo fenômeno no registro de temperatura (e é por isso que nós também vemos as mesmas conclusões errôneas sobre esse registro). A lição disso é que devemos tratar com ceticismo qualquer um que concluir tendências de longo prazo baseado em um sinal com ruído (afinal, o ceticismo funciona nos dois sentidos).
Além disso, a Figura 1 é particularmente ruidosa, pois exibe dados não filtrados. O nível do mar está sujeito ao efeito do "barômetro invertido", no qual o nível do mar apresenta depressões em áreas de alta pressão atmosférica e elevações em áreas de baixa pressão. Quando os efeitos da pressão barométrica são filtrados, o resultado é um sinal com menos ruído, e fica mais claro o que está acontecendo com o nível do mar.
Figura 2: Medições altimétricas de satélite da mudança global da média dos oceanos com o efeito do barômetro invertido filtrado (Universidade do Colorado).
Uma visão mais ampla do aumento do nível do mar
A média global do nível do mar (ex.: a média global da altura dos oceanos) tem sido tipicamente calculada a partir de dados de marégrafos. Marégrafos medem a altura da superfície do mar em relação a pontos de referência na costa. O problema disso é que nem sempre a altura do ponto em terra é constante. Movimentos tectônicos podem alterá-la, assim como ajustes isostáticos glaciais. Isso ocorre onde terras que foram anteriormente pressionadas para baixo por grandes mantos de gelo se elevam agora que os mantos de gelo desapareceram.
Para construir um registro histórico global do nível do mar, registros de marégrafos distantes de limites de placas e sujeitos a pouco efeito isostático são utilizados. Isso tem sido feito no artigo A 20th century acceleration in global sea-level rise (Church 2006), que reconstrói o nível global do mar a partir de marégrafos ao redor do globo. Uma versão atualizada da situação do nível do mar é apresentada na figura 3:
Figura 3: Média global do nível dos oceanos de 1870 a 2006 com estimativa de erro de um desvio padrão (Church 2008).
Estimativas da maré a partir de testemunhos de sedimentos remontam no tempo aos anos 1300. Nessas se observa que o aumento do nível do mar é próximo de zero na primeira parte do registro dos sedimentos. Então se observa uma aceleração no aumento do nível do mar durante o século XIX e no início do século XX. Ao longo do período no qual os dois conjuntos de dados se sobrepõem, há uma boa concordância entre os registros de sedimentos e os de maré (Donnelly 2004, Gehrels 2006).
O que mais nos interessa são as tendências de longo prazo. A figura 4 mostra as tendências de 20 anos de dados de maré. De 1880 até o início dos anos 1900 o nível do mar estava subindo aproximadamente 1mm por ano. Ao longo da maior parte do século XX, o nível dos oceanos tem subido aproximadamente 2mm por ano. No final do século XX, atingiu 3mm por ano. As cinco tendências de 20 anos mais recentes são as que apresentam os maiores valores.
Figura 4: Tendências lineares no nível do mar ao longo de períodos de 20 anos, com estimativa de um erro sigma mostrada em linha pontilhada. De 1963 até 1991 houve uma série de erupções vulcânicas que causaram resfriamento e consequente contração da camada superior dos oceanos. Estas erupções temporariamente diminuiram o ritmo do aumento do nível do mar.
Assim, uma visão mais ampla do registro histórico revela que o nível dos mares não está só subindo. A taxa de subida tem aumentando também, desde o final do século XIX.
Refutação intermediária escrita por dana1981.
Atualização em Julho de 2015:
Abaixo segue uma video aula relacionada ao tema, do curso Denial101x - Making Sense of Climate Science Denial
Vídeos adicionais do MOOC
Entrevista com o especialista Richard Alley (em inglês)
Entrevista com a especialista Isabella Velicogna (em inglês)
Vídeo Adicional
Translation by Luciano Marquetto, . View original English version.
Argumento cético...